Capítulo 2 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 02.
Casa de Alminha/ Sala de previsões.
Anna, preocupada: O que você viu, Alminha? O Noronha vai ser preso?
Alminha, surpreendida: Eu vejo dinheiro, cunhada, muito dinheiro…
Anna põe a mão na cabeça: Ah não, o Noronha vai ser ladrão!
Alminha discorda: Não, é dinheiro limpo, eu vejo poder também, vejo riquezas por toda parte, mas uma pessoa infeliz e vingativa…Espera, uma mancha apareceu, e está cobrindo a bola de cristal toda, ah não, ah meu Deus, não consigo ver mais nada…- Ela abre os ólhos, está sem folego, encara a cunhada, que está assustada- Anna, o futuro do Noronha é intenso demais, nem eu consigo ver direito, é algo que mexeu demais comigo…
Anna fica surpresa.Alminha está trêmula.
Enquanto isso, nas ruas da cidade…
Bravejo e seu assistente, Ruper, caminham pelas ruas da cidade, estão próximos a prefeitura.
Ruper anota algo: Pronto, eu acho que o seu discurso está ótimo, só acho que a população daqui não vai entender algumas palavras como “ plausível” “ garrido”, nem eu sei o que significa isso!
Bravejo cumprimenta alguém: Não opine, Ruper, esse discurso está ótimo, e ninguém precisa entender, basta ouvir e aplaudir, fora que eles se encantam com qualquer palavra diferente.
De repente, José do Gado sai da prefeitura e cruza com os dois.
José do Gado, irônico: Ora, ora, ora, aqui estamos nós, o FUTURO prefeito, no caso eu, e o CANDIDATO a prefeito, no caso você.
Bravejo, o encarando: Acho que você inverteu os cargos, já que segundo a pesquisa do jornal, EU estou com maior aprovação do povo. EU.
José ri: Quanto você pagou pro editor do jornal colocar aquilo lá? Um par de dentaduras?
Bravejo tira o chapéu: Está insinuando que eu subornei alguém?
José o encara também: Não, estou afirmando mesmo, Coronel Bravejo de AMENDOA Cardoso!
Bravejo: Pois eu digo que é mentira, senhor José do Gado CASTANHA e Malves.
José: Seu amendoa!
Bravejo: Castanha!
Chico chega, separando os dois: Não é hora de discutir agora, nós vamos ver quem é o vencedor nas urnas, e eu tenho certeza que você vai ser o campeão, José.
Bravejo pega seu chapéu: Vamos, Ruper, não posso gastar minha saliva com esses dois corruptos, tenho que usa-la na hora do meu discurso de campeão- Ele sai, estressado.
Alguns dias depois…
Quarto de Éssio e Noronha, ele treina com a bandeira enquanto Éssio lê uma revista em quadrinho.
Noronha, se olhando no espelho: …Nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio mais amores…
Éssio, irritado: Você pode cantar mais baixo? Estou tentando ler.
Noronha nem olha para ele: Os incomodados que se mudem, aposto que está com inveja de mim, que vou ser a estrela no dia das eleições, enquanto você vai ser mais um na plateia.
Éssio rebate: Você não sabe se o Bravejo vai ganhar!
Noronha: Vai sim, pelo menos é o que diz a pesquisa do jornal, querido irmão!
Éssio se levanta: Seu exibido, tomara que você caia e passe vexame!
Noronha ri: Ciumento, eu não sou você que caiu escada a baixo no pátio mês passado!
Éssio fica irado: Foi um acidente, você sempre quer me atingir com alguma coisa do passado!
Noronha: É o seu passado vergonhoso, não posso fazer nada!
Éssio vai partir pra cima dele, mas Noronha é firme: Se você encostar nessa bandeira eu te mato!
Éssio, assustado: Seu…Seu sombrio, você é do mau, fica me ouvindo, você não vai hastear essa bandeira- Ele sai.
Na sala…
Bento e Anna estão na mesa: Eu já queria conversar com você faz algum tempo, Anna, e é um assunto sério, é sobre o Noronha.
Anna faz cara ruim: O que ele foi inventar pra você? Sim, porque aquele menino adora inventar história, não sei de onde vem tanta maldade.
Bento: CHEGA! Eu não vou admitir que você fique falando mal do Noronha, ele é seu filho e não merece palavras tão duras nessa idade, tá me entendendo?
Anna engole em seco: Você é dramático mesmo, viu, Bento eu…
Bento interrompe: Eu não acabei de falar! Se eu ver você humilhando o Noronha e deixando ele sem comer de novo, ah, Anna, você vai se ver comigo!
Anna fica séria, mas assustada por dentro.
Alguns dias depois…
É dia da eleição, durante todo o dia o povo de Vila Varzeônica vota para decidir quem será o novo prefeito da cidade, só há duas opções, José do Gado e Coronel Bravejo.
A noite, na praça principal da cidade, Chico Branco, atual prefeito, faria a contagem, papel por papel.
Noite…
Bravejo e Bento conversam.
Bravejo, nervoso: Olha, eu fiquei me fazendo de forte a eleição inteira mas a verdade é que eu estou morrendo de medo agora, Bento, se eu perder…Vou passar vexame municipal!
Bento o apoia: Não se preocupe, você deve erguer a cabeça e seguir em frente se perder, aja naturalmente amigo, é a sua hora, pode até dar certo nervosismo mas você deve deixa-lo de lado e seguir firme.
Bravejo respira fundo: Você tem razão, daqui a pouco começa a contagem de votos e eu não vou amarelar, Bento, serei firme integralmente.
Bento apoia: Isso mesmo, eu vou ficar ali torcendo por você, Bravejo sua campanha foi ótima, você merece ganhar!- Ele sai e se junta a mulher e aos filhos na parte da multidão que torcia a favor do Coronel.
Não muito longe…
José do Gado: Eu vou ter um troço, Marinez, eu morro de medo de passar vexame, estou quase tendo um treco aqui, é muita pressão e…- Ele recebe um tapa na cara da própria esposa- Ai, o que foi isso, Marinez?
Marinez, firme: Isso foi pra você saber que não deve ficar nervoso, Zé, vai na fé que você vai ganhar, já rezei pra todos os santos que existem na face da terra, você fez uma bela campanha.
Aurora está ao lado da mãe: É verdade pai, você vai ganhar!
José respira fundo: Exatamente, eu vou subir naquele palco, e falar lindas palavras em homenagem as duas quando eu me eleger- Ele beija a esposa e a filha, depois sobe no palco.
Aurora repara em alguém: Mãe, posso ir ali com meus amigos?
Marinez concede: Claro, pode ir filha, mas se o seu pai perder volte, você sabe como ele fica quando perde alguma coisa.
Aurora: Mas não foi você que falou que ele ia ganhar?
Marinez ri: É claro que eu falei, não posso falar que ele vai perder, mas nunca se sabe, agora vai brincar minha filha, essa coisa de politica apodrece a alma e a sua ainda é muito pura.
Aurora sai correndo, e vai aonde estão Noronha, Bruno e Éssio.
Bruno, feliz: Ainda bem que você chegou, Aurora, estávamos te esperando pra…
Noronha o interrompe: Você sabia que eu vou hastear a bandeira na hora do hino?
Aurora: Legal, Noronha!
Bruno: Como eu ia dizendo…Estávamos te esperando porque eu queria testar uma coisa nova que o meu pai comprou pra mim…Chama se máquina fotografica, daquelas que tiram fotos, e nessa aqui a foto sai na hora!
Aurora fica fascinada: Uma máquina fotográfica, Bruno! Que legal, deixa eu tirar uma foto!
Bruno pega a máquina: Primeiro eu vou tirar uma de vocês, depois deixo todos tirarem, vamos, eu quero os três abraçados e sorrindo.
Éssio, emburrado: Eu não quero tirar fotografia nenhuma!
Noronha ri: Ele está com ciume porque eu vou hastear a bandeira e ele não!
Éssio fica vermelho: SEU CHATO, VOCÊ TÁ ME PROVOCANDO, EU VOU CONTAR TUDO PRA MAMÃE!- Ele sai correndo.
Noronha continua rindo: Deixa o Éssio para lá, ele fica aborrecido quando não consegue o que quer…Nesse caso só eu abraço a Aurora- Ele abraça Aurora apertado.
Bruno programa a máquina: Sorriam, pessoal!- Depois de alguns instantes ele tira a foto.
Aurora mexe no rosto: Nossa, levou uma eternidade pra tirar uma foto, meu rosto tá até doendo!
Noronha, curioso: E então, como ficou a foto?
Bruno começa a chorar.
Aurora, assustada: O que foi? Você quebrou a máquina?
Bruno, comovido: Não, é porque essa é a minha primeira fotografia, vocês não imaginam a emoção…
Noronha observa a foto: Mas Bruno, a foto ficou toda trêmula, você se mexeu na hora de tirar!
Bruno arranca a foto das mãos dele: Ficou perfeita, a primeira foto a gente nunca esquece!
Enquanto isso Chico Branco sobe no palco, pega um microfone todo falho: Cidadões e cidadãs de Vila Varzeônica, estamos aqui novamente para mais uma eleição para prefeito da nossa amada cidade, nesse ano não me candidatei novamente, mas passei duas décadas como prefeito, vi muita coisa, boa e ruim, e fiz o que pude…
Coronel Bravejo: Não fez nada…
Chico prossegue:…Fiz o que pude para melhora-la, e agora, um desses dois elementos aqui, José do Gado- Uma parte da multidão faz festa- e Coronel Bravejo-A outra parte faz uma festa ainda maior- Um desses dois, meu amado povo, vai ser o novo prefeito, e agora vamos começar a a contagem de votos UM POR UM, peço que ninguém durma e nem ronque como na eleição passada, vamos começar…
Um tempo depois…
Chico, já sem voz: Olha, meus amigos, a disputa continua acirrada- Ele faz cara de suspense, a população está quieta pois os dois estão empatados- Só temos mais um voto na urna, até o momento estamos assim: José do Gado com 499 votos e o traste, digo, o Coronel Bravejo, também com 499 votos. Esse último voto aqui vai decidir quem será o novo prefeito de Vila Varzeônica- Ele pega o papel.
José roe as unhas e pensa: Eu achei que já tinha comprado gente o suficiente…
Do outro lado, Bravejo se abana, e pensa: E agora, se eu não ganhar não vou ter dinheiro pra pagar tudo o que gastei, vão pegar meu carro de volta, meu calhambeque não pode ser separado de mim, NÃO PODE!
Na multidão, Noronha cruza os dedos: Gosto muito do José, ele é pai da Aurora, mas se o Bravejo ganhar EU vou subir no palco, vou ter meu momento de glória.
Bento está morrendo de calor: Se o Bravejo perder, eu não sei nem o que vai acontecer com a gente, dependemos da vitória dele para pagar o resto da casa, Anna.
Anna apenas reza.
Chico Branco faz uma expressão séria: E o novo prefeito de Vila Varzeônica é…O CORONEL BRAVEJO!
Festa por uma parte da população, Bento abraça os filhos e Anna comemora rezando, Bravejo começa a pular no palco junto com Leopoldo enquanto José do Gado fica perplexo.
José do Gado, sem chão: Não é possível, eu exijo uma recontagem, esse novato de meia pataqua só pode ter alterado o resultado!- Ele começa a inforcar Chico Branco- Quero uma recontagem agora!
Bravejo, explodindo de alegria: Façam mil recontagens, o fato é que você perdeu, seu CASTANHA, perdeu, e eu sou o novo prefeito sou eu!
Chico, decepcionado: É, nós fizemos a contagem certinha, Zé- Ele sussurra- Você perdeu.
Bravejo começa a sambar: PERDEU, PERDEU, PERDEEEEEEEEU!
Chico trata de interromper: Chega, agora que você é o prefeito, aja como tal, e vá fazer logo o seu discurso pra ver se para com a festa da gentalha.
Leopoldo intervém: Eu acho melhor tocar o hino primeiro, pra gente se recompor e o povo também, depois ele faz o discurso dele.
Chico: Tudo bem- Ele faz sinal para que o ajudante ligue o rádio- Cadê o hasteador da bandeira?
Leopoldo faz sinal para Noronha vir.
José do Gado, irritado: Isso é desculpa esfarrapada! Ele esqueceu o discurso e está inventando isso!
Bravejo retruca: Eu nem anotei o discurso, porque assim que chego aqui, esse contato com o povo já me inspira pra falar tudo, agora saia daqui e vá para o lugar dos perdedores, abaixo de mim!- Ordena.
José do Gado sai irritado, e é consolado pela esposa e pela filha.
Noronha se levanta: Bom, agora é meu momento, me desejem sorte.
Bento, confiante: Vai lá filho, você vai brilhar, tenho certeza.
Éssio cochicha algo para a mãe.
Atrás do palco…
Noronha pega a bandeira e fala consigo mesmo: Bom, agora é seu momento, Noronha, faça o seu melhor e mostre pra todo mundo que você é bom em tudo que faz, bom…Em quase tudo- Ele pega a bandeira do Brasil, respira fundo, e vai andando para o palco, quando é impedido por Anna.
Anna Maria, fria: Larga essa bandeira, Noronha.
Termina o capítulo 2.