Lágrimas do Céu – Capítulo X
O hospital estava cheio, pois havia ocorrido um grande acidente na cidade por conta da chuva que caia neste dia. Ângela entrou na unidade de saúde a pós ter recebido uma ligação, subiu as escadas depressa e foi direto para o quarto ao qual estava a Sra. Margarete, porém teve uma surpresa, o local estava vazio. Então avistou uma enfermeira passando pelo corredor, correu até ela e disse:
– Enfermeira, você sabe onde está a senhora que estava nesse quarto? – Ângela possuía uma expressão de preocupação.
– Desculpe senhora, mas não sei informar. Pergunte a recepção que lhe dirão.
A jovem estava muito eufórica, rapidamente desceu as escadas e correu para a recepção. Nela estava uma mulher de coque no cabelo, usava óculos e estava falando ao telefone. Assim que a recepcionista terminou a ligação Ângela falou:
– A senhora pode me informar onde está a Sra. Margarete do quarto 102. Eu recebi uma ligação alguns minutos atrás e vim o mais rápido possível. Sou a responsável por ela, preciso saber onde ela está, pois já procurei no quarto e não a encontro – Ângela estava muito inquieta e expressava preocupação.
– Deixe me verificar aqui se foi marcado algum procedimento médico para ela hoje – a mulher de óculos ficou em silêncio por um tempo, mexeu no computador, demorou um pouco o que deixou a jovem mais preocupada ainda – Eu vou ligar para a enfermeira chefe e perguntar sobre a paciente.
Ângela estava impaciente, andava de um lado para o outro na frente da recepção. As cadeiras de espera estavam lotadas, tinham muitas pessoas transitando pelo local, muito barulho e dava para ouvir o som da sirene de uma ambulância. Demorou um pouco para a atendente informar algo sobre a Sra. Margarete:
– Moça, a Sra. Margarete foi internada agora de manhã por volta das 8:00 horas, a enfermeira não me informou a causa da internação, ela apenas pediu para que a senhorita suba até o primeiro andar e fique na sala de espera. Logo mais ela vai lhe procurar não se preocupe a idosa esta em boas mãos.
– Muito obrigada, mas como a enfermeira saberá me encontra se não sabe meu nome? – Ângela franziu a testa.
– Ela vai perguntar quem é a responsável pela Sra. Margarete, então é só você falar.
– Entendi muito obrigada.
A jovem subiu novamente as escadas, encontrou uma pequena recepção onde estava uma técnica de enfermagem, mais adiante estava umas cadeiras e se sentou. Estava muito aflita, não conseguia ficar parada na cadeira, tanto que resolveu se levantar e andar pelo corredor, mas sempre de olho na porta que deva para a sala de cirurgia. A cada pessoa que saia ela esperava que alguém dissesse notícias sobre a Sra. Margarete, mas o tempo passava e nada. O movimento no hospital só aumentava, a cada minuto entrava pessoas com situações de saúde diversas. Teve uma hora que entrou três macas, em uma delas estava um homem com um grande ferimento na perna e gritava de dor. Ângela estava muito agoniada, imaginava que algo ruim tinha acontecido com a idosa, pois a moça que ligou para ela falou com um ar serio que necessitava da presença dela no hospital.
A moça andou um pouco por um corredor, bebeu um pouco de água para se acalmar, mas nada a deixava calma. Então resolveu ligar para alguém, mas quem? Ela mexeu na sua bolsa, achou o cartão de William, pensou em ligar para ele, porém recuou da ação. Ela não queria incomodar o empresário, resolveria a situação como der. Horas depois uma mulher de jaleco branco, com toca na cabeça apareceu com uma ficha nas mãos e chamou pela responsável da Sra. Margarete. Imediatamente Ângela se levantou, foi ao encontro da médica e perguntou:
– Como ela está? O que houve com ela? Onde ela está? – Ângela bombardeou a médica com perguntas.
– Calma, ela está na sala de cirurgia, logo mais vai para o quarto. Hoje pela manhã a enfermeira entrou no quarto para dar as medicações para a idosa e verificou que a paciente estava reclamando de muitas dores em uma região específica da barriga, local onde se localiza a apêndice. A cirurgia já foi realizada, demorei um pouco para terminar, pois a idosa teve queda de pressão e a apêndice estava inflamada mais do que o esperado – Ângela fez uma expressão de surpresa misturada com medo e preocupação – Mas não se preocupe, consegui resolver o problema e a idosa está fora de perigo. Duas enfermeiras estão limpando a paciente, pois ela perdeu um pouco de sangue, mas logo estará no quarto.
– Muito obrigada, mas vou esperar pela Sra. Margarete aqui mesmo.
Ângela ficou mais calma, porém só ficará totalmente aliviada quando viu a idosa bem e acomodada no quarto do hospital. Uma funcionária da unidade de saúde chamou a jovem para assinar alguns documentos referentes à idosa, neles continham informações sobre o procedimento realizado e sobre o tempo ao qual a paciente deve ficar interna. Ângela leu os documentos atentamente antes de assiná-los. Demorou um pouco para a idosa ser levada para o quarto, a jovem já estava no local e verificou que a paciente entrou dormindo. A Sra. Margarete estava corada, quieta e tomava soro.
No outro lado da cidade William estava terminando sua corrida de sábado, estava suado e cansado. Ele voltou para seu apartamento, tomou um bom banho, vestiu sua roupa enquanto isso escutava o noticiário que passava na televisão de seu quarto. O repórter estava à frente de um hospital público, William não prestou atenção na imagem, mas sim no som. Depois que terminou de se vestir ele voltou sua atenção para a imagem que passava no aparelho e verificou que o hospital ao qual estava sendo filmada a reportagem é o que a Sra. Margarete está interna. Com isso o empresário pegou sua carteira, a chave do carro e já estava a caminho da unidade de saúde.
Chegando ao local verificou que este estava cheio, com isso demorou a acessar o quarto ao qual a Sra. Margarete está interna. A unidade ainda estava barulhenta e com uma quantidade grande de pessoas, quando o empresário chegou ao quarto viu que Ângela estava sentada na cadeira cochilando. Ele entrou devagar para não acordá-la, chegou perto da moça e deu um pequeno beijo na bochecha dela o que a fez despertar.
– William o que está fazendo aqui? – ela possuía a expressão cansada.
– Eu vi o noticiário agora a pouco, estava passando imagens desse hospital e então resolvi ver como a Sra. Margarete está – ele falou calmamente.
– Ela passou por uma cirurgia agora a pouco, estava com a apêndice inflamada – ela falou passando as mãos sobre o rosto.
– Mas ela está fora de perigo? – o empresário mostrou preocupação.
– Está sim, agora como vê está dormindo. Eu já falei com a médica que fez a cirurgia na Sra. Margarete e correu tudo bem – a jovem colocou uma das mãos sobre a boca no momento em que deu um bocejo.
– Pelo que vejo a senhorita está cansada, andou trabalhando muito? – ele falou olhando atentamente para Ângela.
– Não se preocupe comigo, estou bem – Ângela cambaleou, quase caiu no chão, mas fora segurada por William.
– Cuidado, a senhorita anda se alimentando bem? Ou é cansaço? – ele deu uma pequena pausa – Se a senhorita quiser posso ficar aqui com a idosa, ou melhor, te levo para casa – ele deu um pequeno sorriso no canto da boca.
– Já disse que não precisa se preocupar comigo, estou bem, acho que fiquei tonta porque estou muito cansada e não consegui dormi direito na noite passada – Ângela sentou-se em uma cadeira.
Os dois ficaram no local por um bom tempo, a jovem sentada na cadeira, estavam quietos, não falaram um com o outro. Depois de um tempo uma médica de cabelos pretos curto entrou no quarto querendo falar com o responsável pela Sra. Margarete e Ângela se levantou, mas o empresário se adiantou dizendo que queria saber do estado de saúde da idosa. Então a médica resolveu falar com eles fora do quarto para que caso a paciente acordasse não escutasse a conversa:
– Bom, estou chamando vocês para falar sobre uns exames que realizei na paciente. Fiz alguns de rotina e percebi que algo estava errado com os exames de fezes. Então resolvi fazer uma ultra-som na região em que se localiza o intestino e tive uma surpresa – a médica deu uma pequena pausa.
– O que houve doutora? – Ângela franziu a testa preocupada.
– Então verifiquei que a idosa possui um nódulo no intestino, olhei mais detalhadamente e percebi que se trata de um câncer – a médica falou com uma expressão seria.
Nesse momento os olhos de Ângela ficaram vermelhos, a garganta seca e acabara olhando para William que também não possuía uma expressão muito boa.
– Eu sinto muito, mas farei o que for possível para que a idosa fique bem. Eu e minha equipe vamos monitorar a paciente fiquem tranquilos, ela está em boas mãos – a médica acariciou o ombro de Ângela – Caso precisem de mim podem pedir para me chamar na recepção – ela saiu deixando os dois no corredor.
William chegou perto da jovem que tinha lágrimas sobre o rosto, ele a abraçou acariciando a nuca dela como uma forma de acolher o sofrimento dela. Ficaram assim por um bom tempo, William parecia o pai de Ângela.
– Acho que devemos sair deste hospital, a notícia que recebemos não foi nada boa, mas sei que a idosa ficará bem, estou a sua disposição – o empresário colocou uma das mãos no rosto da jovem e com a outra enxugou as lágrimas – Pegue sua bolsa, eu deixo você em casa.
William sempre fora gentil, educado e prestativo ainda mais vendo as pessoas passarem por momentos difíceis como o qual Ângela estava passando. Eles desceram as escadas juntos, o empresário estava ao lado da jovem segurando-a pela cintura e ela com a cabeça em seu ombro. Seguiram pela cidade ao fim da tarde, William observou que a jovem adormeceu, então no caminho avistou uma cafeteria, parou o carro perto e ficou por instantes a observar a bela jovem dormindo. Ele se lembrou do momento em que a beijou, quando sentiu o perfume dela e a tendo em seus braços. Então resolveu acariciar o rosto delicado da moça, com isso ela acabou acordando.
– Já chegamos? – Ângela estava com cara de sono.
– Não, eu resolvi parar aqui para ir até aquela cafeteria, você deve estar com fome – William apontou para o pequeno estabelecimento mais a diante – Mas, não queria acordar você.
– Tudo bem – Ângela se endireitou na cadeira.
William saiu do quarto, abriu gentilmente a porta para que a jovem pudesse sair e irem juntos a cafeteria. Ao entrarem puderam ver que o local era pequeno, com mesas quadradas, bem organizado, na parede possuía fotos em preto e branco, o local era aconchegante. Eles logo foram atendidos por um educado rapaz, William pediu um capuchino com uma fatia de bolo de laranja, já Ângela não queria nada, mas após o empresário insistir ela escolheu um café pequeno com alguns pãezinhos de queijo. Enquanto comiam William resolveu não tocar no assunto sobre o estado de saúde da Sra. Margarete.
– Ângela, é notável o apreço que tens pela Sra. Margarete, tanto ao ponto de eu achar que ela possa ser alguém da sua família, estou certo? – William falou com a voz serena.
– Ela é… – a jovem deu uma pausa – é apenas uma amiga e que não tem ninguém que cuide dela – Ângela falou com nervosismo.
– Se conhecem há muito tempo? – William falou após ter dado um gole de seu capuchino.
– Sim, faz muito tempo, ela é como uma mãe para mim – a jovem falou sem olhar para o empresário.
– Desculpe eu perguntar, mas o que houve com sua mãe e seu pai? – William franziu a testa.
– Eu não gosto de falar do meu pai, ele não me traz lembranças boas – a jovem falou ainda sem olhar para o empresário.
– Me desculpe, mas e sua mãe? Desculpe acho que estou sendo intrometido em lhe fazer essas perguntas – William falou tomando cuidado no que deveria falar.
– Tudo bem, não tem problema. A minha mãe não está mais aqui, sinto falta dela – nesse momento duas lágrimas caíram sobre o rosto de Ângela.
– Que pena, eu sinto muito, não queria fazer a senhorita chorar – William pegou um guardanapo que estava sobre a mesa e deu para que Ângela enxugasse suas lágrimas.
Os dois terminaram seus cafés, se dirigiram para o carro de William e se dirigiram a casa de Ângela. No caminho eles ficaram em silêncio por um tempo, Ângela tinha a imagem da Sra. Margarete deitada na cama do hospital, isso não a deixava feliz. A conversa que tivera com William a deixou nervosa faz tempo que não pensa no pai, pois este não realizou as funções paternas como deveria.
Ao chegarem à casa de Ângela o empresário fez como sempre, desceu do carro e abriu a porta para a jovem. Esta logo que saiu do automóvel olhou para o empresário, pensou em agradecer, mas não sabia como. Então ele pegou na mão dela, deu um beijo, chegou perto dela e quando esta se distraiu deu um beijo nos lábios em seus lábios delicados. Nesse momento nada mais importava, eles estavam apenas curtindo o momento.
– O senhor não deveria ter feito isso, não deveríamos ter tal intimidade – disse Ângela após terminarem de se beijar.
– Me desculpe, eu não sei o que me deu para realizar tal ato – William se afastou da moça a deixando passar.
– Então, muito obrigada, preciso descansar agora – ela pegou sua bolsa e entrou em casa.